Epilepsia - Trabalhos em Congressos
QUAL É O FUTURO DA ELETROCORTICOGRAFIA INTRAOPERATÓRIA?
A Cukiert, JA Burattini, JO Vieira, PP Mariani, C Baise, C Baldauf, M Argentoni, L Frayman, VA Mello, L Seda, RLB Camara, PRS Mendonça.
Serviço de Cirurgia de Epilepsia, Hospital Brigadeiro e Clínica de Epilepsia de São Paulo, São Paulo-SP, Brasil.
INTRODUÇÃO
A eletrocorticografia intraoperatória (iECoG) foi o método de eleição para a determinação da quantidade de tecido a ser ressecado nos primórdios da cirurgia de epilepsia. Quase nenhum estudo de imagem era disponível nessa época, exceto a pneumoencefalografia. Os estudos de neuroimagem modernos, especialmente a RNM, tornaram possível o diagnóstico pré-operatório da maioria das lesões epileptogênicas. Entretanto, 15 a 20% dos pacientes com epilepsia refratária ainda têm achados de imagem normais. Este artigo discute o papel atual da iECoG baseando-se em uma série de 726 pacientes submetidos à cirurgia.
MATERIAL
Nós revisamos retrospectivamente a necessidade da iECoG em uma série de 726 pacientes submetidos à cirurgia para tratamento de epilepsia refratária. Foram realizadas 446 ressecções temporais, 75 frontais, 43 rolândicas, 22 do quadrante posterior, 15 parietais, 9 occipitais e 4 ressecções corticais insulares, bem como 79 calosotomias e 33 hemisferectomias. A idade média no momento da cirurgia foi de 24,7 anos e o tempo médio de acompanhamento foi de 3,1 anos. IECoG foi rotineiramente utilizada durante os primeiros 250 procedimentos.
RESULTADOS
Achados de IECoG não se correlacionaram com os resultados em relação às crises no pós-operatório de pacientes com epilepsia do lobo temporal. Embora alguns dos primeiros pacientes submetidos à calosotomia tenham utilizado a iECoG para documentação da ruptura da sincronia bilateral secundária, também não foi encontrada nenhuma correlação com os resultados clínicos e atualmente preferimos realizar uma calosotomia maximizada sem iECoG. Pacientes com achados de neuroimagem normais invariavelmente necessitam de registros crônicos com eletrodos invasivos (cECoG) e a iECoG não é necessária. Até recentemente, a iECoG continuou a ser utilizada como método para a determinação de margens corticais adicionais a serem ressecadas durante lesionectomias. Entretanto, a ressecção cortical adicional é mais freqüentemente limitada pelo padrão vascular e funcional do córtex do que por achados de iECoG.
CONCLUSÃO
IECoG tem sido cada vez menos usada em cirurgia de epilepsia. Apesar de ser facilmente realizada, as decisões devem ser baseadas em registros inter-ictais curtos (30-45 min), obtidos de pacientes anestesiados. O mais importante, é que a iECoG não se correlacionou com os resultados em relação às crises na maioria das modalidades cirúrgicas realizadas atualmente para tratamento da epilepsia refratária. Uma melhor compreensão das lesões epileptogênicas e sua patofisiologia certamente levarão ao desaparecimento da utilização rotineira da iECoG.